quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Tópicos de Aparecida (II) - Conversão Pastoral


O tema da "conversão" é tão velho quanto a Bíblia. Inúmeras passagens, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento nos apresentam a temática da conversão enquanto retomada da Aliança com o Senhor e volta à prática da Palavra de Deus.

A visão cristã de conversão, durante muito tempo, foi direcionada à uma postura privada da relação homem e Deus. Nestas últimas décadas, com o crescimento da consciência social, surgiu a idéia de "conversão social", que nos coloca na direção dos pobres e oprimidos, dentro da ótica da Teologia da Libertação, à luz da Doutrina Social da Igreja.

O Documento de Aparecida cunhou a expressão "conversão pastoral". Todos são chamados a buscar esta postura de conversão pastoral, uma vez que ela é da Igreja toda. Por isso, o novo de Aparecida na verdade já não é tão novo assim, uma vez que faz resplandecer aquilo que o Concílio já havia falado, décadas atrás, sobre o sacerdócio comum dos fiéis, ou seja, todos, pelo Batismo, fazem parte do sacerdócio de Cristo e, por isso, todos são, de certa forma, co-responsáveis pela vida eclesial.

A constatação de que a vida da Igreja em nosso continente está amparada em estruturas "caducas", envelhecidas, leva à necessidade desta conversão. Chamada à missionariedade, a Igreja descobre que ainda está muito dentro de suas sacristias e que precisa sair delas para ir ao encontro das pessoas. Aliás, esta constatação, há mais de 25 anos, D. Frederico Didonet já havia feito aqui no Rio Grande.

E quais serias estas "estruturas caducas"? Algumas delas podemos elencá-las:

a) uma acomodação geral na Igreja, por meio de uma "pastoral de manutenção", ou seja, manter o que nós temos, sem preocupação missionária;

b) um clericalismo, que abafe a atuação dos leigos e leigas e o surgimento de novos carismas na Igreja;

c) um modelo de paróquias, enquanto "feudos", sem um compromisso maior com uma pastoral orgânica e sem atender as novas periferias, que surgem em nossos centros urbanos;

d) um modelo centralizador de Igreja, desrespeitando as culturas locais e os novos desafios. Este modelo pode existir muito em nossas paróquias e organismos eclesiais.

Enfim, mudar é preciso! A receita do bolo nós já a temos. Agora, é buscar a conversão, sincera e total do nosso coração, para entrarmos num processo de conversão pastoral, na direção da missão que Jesus nos confia em nosso continente.

Tópicos de Aparecida (I)


Aparecida foi a V Conferência dos Bispos da América Latina e do Caribe. Aconteceu em maio de 2007, tendo sido aberta pelo Papa Bento XVI. Antes dela, haviam acontecido em 1955, no Rio de Janeiro, em 1979, em Puebla e em 1992, em Santo Domingo. Cada uma destas Conferências teve papel histórico decisivo na vida da Igreja latinoamericana.

Não vou entrar no histórico das Conferências, embora isto seja apaixonante. Aqui, pelos próximos dias, iremos tratar das diferentes temáticas que Aparecida nos oferece e que nos ajudará na reflexão teológica e pastoral destes nossos tempos. Alguns destes temas foram cunhados em Aparecida, aparecendo no documento pela primeira vez; outros,são retomados das documentos anteriores e do Magistério Pontifício, seja do Papa João Paulo II, seja do Papa Bento XVI.