segunda-feira, 27 de julho de 2009

Pensando em voz alta (I)

Chego em casa, vindo de mais uma reunião do Projeto Missionário Diocesano. Continuamos a andar às apalpadelas, sem rumo nem direção. A constatação dolorida é de que a missionariedade não está mais na ordem do dia, seja na cabeça de nossos pastores, seja na cabeça e no coração de nossas lideranças. Aliás, não sabemos nem o que se encontra na ordem do dia atualmente em nossa Igreja. As necessidades e desafios pastorais passam diante dos nossos olhos e corações numa rapidez vertiginosa: o Documento de Aparecida, com toda a sua riqueza teológico-pastoral, desapareceu na poeira de nossas estantes; o Ano Paulino, recém encerrado, não trouxe maiores repercussões, a não ser em alguma agências de turismo religioso; o Ano Catequético repercutiu no primeiro semestre em algumas almas heróicas de nossas catequistas; a juventude? Continua semimorta em nossas comunidades...
Não quero parecer pessimista ou ter que assumir uma atitude de padre velho, para quem nada mais dá certo no mundo de hoje e que vive num saudosismo de um passado que não vai mais voltar (“ah, bons tempos aqueles...”). Parece, porém, que vivemos num tempo árido, onde nos acostumamos com uma pastoral de manutenção e com a vivência de uma religiosidade totalmente descomprometida e sem sal. Deixamos de viver um cristianismo que possa fazer a diferença numa sociedade paganizada, sendo sal da terra e luz do mundo. Está certa a frase de João Batista Scalabrini (“O mundo anda depressa e nós não podemos parar”...), mas a rapidez com que nossas opções pastorais vêm e vão não permite nem que consigamos iniciar e concluir qualquer projeto eclesial. Aquilo que hoje é assunto na Igreja tende amanhã a desaparecer, sem deixar rastro, sendo substituído por outro que depois de amanhã também vai cair na vala comum do esquecimento. E nessa loucura de passar por temas que vêm e vão, vamos deixando brechas escancaradas de necessidades de nosso povo que existem, continuam a existir e não conseguem ser atendidas. Olhamos para todos os lados, vemos gente sofredora, vemos situações terríveis, “cansadas e oprimidas como ovelhas sem pastor” e cruzamos os braços, nos omitindo de um modo cruel e não-cristão.
Está faltando em nossa Igreja hoje o espírito da profecia. Ao melhor estilo dos profetas do Antigo Testamento (sem, porém, precisar utilizar as longas barbas brancas...), torna-se necessário denunciar a mentalidade presente em nossa sociedade e que está contaminando nossa Igreja até os seus fundamentos: uma mentalidade totalmente superficial, individualista, hedonista e outros “istas”, que desfiguram o rosto de Cristo que devemos ser. É profético insistir naquilo que descobrimos como prioridade pastoral e que jamais deve ser esquecido em nossas reuniões e em nossa oração pessoal. Torna-se necessário a comtemplação dos mais prementes desafios que nos são lançados, para que possamos oferecer respostas às questões que nos são formuladas. Para cada desafio, para cada pergunta, a Igreja deve oferecer pistas de reflexão e de ação, de forma concatenada e orgânica. O caminho precisa ser re-feito, para que possamos descobrir onde estamos e para onde precisamos ir. Nossas opções fundamentais necessitam ser retomadas, a fim de que haja de novo o re-encantar-se pelo Reino. Somos mais do que simples “fazedores de coisas”; somos artífices da ação evangelizadora da Igreja, em pleno século XXI, construtores da história nesse novo milênio. É Deus quem nos chama e, por seu Espírito, nos envia em missão. Responder a esse chamado é vocação nossa!

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