terça-feira, 28 de julho de 2009

Pensando em voz alta (II)

O cristianismo vai muito além daquilo que estamos acostumados a ver e a fazer. Talvez o ponto de partida para a compreensão da atual situação de crise que nossa Igreja esteja enfrentando no começo deste Terceiro Milênio seja a dificuldade de estabelecer a real identidade do cristianismo no mundo e o papel do cristão na sociedade. Por não sabermos quem somos, acabamos não percebendo nossas reais prioridades em termos de ação, enquanto pessoas e estruturas eclesiais.
O que é ser cristão no mundo hoje? Como ele deve se portar, de modo a ser sal da terra e luz do mundo? Essas perguntas devem ser continuamente feitas a cada dia e em cada situação que enfrentamos. Se o cristão não tiver diante de si os mais profundos valores do Evangelho, irá agir sem convicção alguma na sua vida, sendo, dessa maneira “contaminado” com o espírito do “mundo”. Vai, assim, tornando-se um pagão na sua prática ética, moral, assumindo, assim, valores absolutamente contrários ao cristianismo, até mesmo porque ele não vai saber exatamente o que o cristianismo acredita e prega.
O Papa Paulo VI denunciou que o cristianismo pode ser apenas um verniz, algo superficial, que não desce à raiz da vida humana. Pode se tornar apenas atos e gestos secundários, que não venham de lugar algum e não levam a lugar nenhum. Quando o cristianismo se torna apenas esse verniz, passamos a vivê-lo assumindo apenas aquilo que nos interessa e deixando de lado o que não gostamos. É por isso que as nossas prioridades em termos de opções eclesiais são às vezes tão frágeis e até mesmo fúteis, mudadas à mercê de nossos “modismos”.
Traduzindo: não estamos, como Igreja, conseguindo assumir um projeto eclesial de forma estável porque pessoalmente (a começar por mim...) não estamos amadurecidos como discípulos missionários de Jesus Cristo. O encantamento pelo Reino somente acontecerá quando o Evangelho deixar de ser um verniz, tornando-se fundamento para nossa vida e para nossas opções pastorais.

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