sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

O ministério com os jovens daqui

Ontem tive o meu primeiro contato com um dos Grupos de Jovens daqui. A gurizada do "Missão Jovem" esteve reunida aqui em casa, por não terem a chave do salão e eu não encontrar a minha. Como diria Dom Bosco, "eu me sinto bem no meio dos jovens". De fato, acredito que aqui vai se repetir a mesma proximidade com os jovens que eu tinha na São José Operário, onde a minha casa era também casa deles e eles se sentiam felizes lá. Aqui percebo a mesma coisa, o que me deixa profundamente feliz. Aliás, a casa paroquial vai, aos poucos, se tornando uma referência para toda a comunidade eclesial, onde as pessoas se sentem acolhidas e amadas. Isto aumenta o nível de auto-estima da Paróquia, que aprende a ver no seu pároco o pastor e amigo, que a todos acolhe e ouve com carinho e amizade. Sempre fiz questão de morar na Paróquia onde atendo, para que o povo saiba onde me encontrar a qualquer hora do dia ou da noite, afinal, sou padre 24 horas por dia e não apenas durante o expediente. Quando a gente procura ser assim, aumenta o zelo pastoral e a vivência do sacerdócio, dando maior satisfação e alegria naquilo que se faz. Posso dizer que sou feliz sendo padre e devo isso muito à convivência com aqueles pelos quais sou responsável como pastor e amigo.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

A arte de viver para os outros

Viver para os outros é uma arte. Mais do que isso: uma vocação, que dá sentido pleno à uma vida. Ontem, no Haiti, faleceu a Dra. Zilda Arns, fundadora da Pastoral da Criança, vítima do terrível terremoto que atingiu aquele pobre país. Ela havia feito uma palestra em uma igreja local, quando aconteceu a tragédia.
Recordar uma pessoa, como Dra. Zilda, nos leva a meditar profundamente sobre a nossa vivência cristã. Acostumados ao egoísmo, podemos acabar perdendo nossa capacidade de alteridade, de abertura ao outro, vivendo encasulados dentro de nós mesmos, ao redor de nossos probleminhas e de nossas mesquinharias. Olhamos para nós mesmos como se o nosso umbigo fosse o centro do mundo, nos esquecendo das dores e dos sofrimentos dos outros, que, às vezes, são infinitamente maiores do que as nossas pequenas dores cotidianas.
Uma Paróquia precisa ser comunidade aberta aos outros, especialmente aos mais pobres e sofredores. Quando nos dedicamos ao outro, nossos problemas se resolvem por si mesmos e encontramos mais felicidade e realização, fazendo nossa vida valer a pena.
Que o exemplo da Dra. Zilda Arns e de tantas mulheres que atuam mundo afora na Pastoral da Criança nos ajude a ser uma Igreja profética e samaritana, sinal do Reino de Deus.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

"Quem não se comunica, se trumbica..." (Chacrinha)

"Quem não se comunica, se trumbica", já dizia o velho Chacrinha. Está em fase de formatação o Jornal "Sou Bonfa", informativo da Paróquia do Bom Fim. Num primeiro momento eu mesmo vou elaborá-lo, de forma que ele realmente saia, tornando-se, assim, um elemento de comunicação e de informação para os nossos paroquianos. Com o tempo, torna-se necessário que haja uma equipe que se responsabilize pela elaboração do informativo. Eu me lembro que, durante boa parte do meu ministério na Paróquia de São José Operário tentamos elaborar um jornal, mas sempre esbarrava em um problema crônico: ninguém queria assumir a responsabilidade e então empurrávamos com a barriga. Consequência: nunca saiu jornal algum. Como o informativo "Sou Bonfa" vai atender as duas comunidades da Paróquia, não vai ficar pesado demais para ninguém: ao todo, terá o custo de R$ 220,00, ou seja, R$ 110,00 para cada comunidade. Dez patrocinadores a R$ 22,00 darão conta do recado. Alguém se habilita????
Estamos a poucos dias do "Mutirão de Comunicação", em Porto Alegre. Nosso Informativo vai na direção da necessidade de utilizarmos todos os recursos de mídia e de comunicação para evangelizar. "O mundo anda depressa e nós não podemos parar" (Scalabrinni).

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Considerações do segundo findi aqui...

Coemça hoje um novo Tempo Litúrgico: o Tempo Comum. Pode-se ter a errônea impressão de que este tempo não tem nada em especial para ser celebrado - diferente dos demais tempos, como o Advento/Natal e Quaresma/Páscoa. Pelo contrário, o Tempo Comum é o tempo do seguimento de Jesus, por excelência, o tempo do Discipulado. Pelo Batismo, somos todos discípulos de Jesus e convocados a permanecer com ele e aprender dele o mistério da presença do Reino de Deus no mundo. Ao aprender com Ele o mistério do Reino, tornamo-nos também sinais deste Reino, através do nosso testemunho de vida e de santidade.
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Ontem foi o meu segundo final de semana aqui no Bom Fim. Estou convencido de que é mito a história de que Rio Grande morre no verão, pois "todo mundo vai para o Cassino". Em todas as Missas tivemos casa cheia neste sábado e domingo. Se uma significativa porcentagem de nossa população vai veranear, não significa que todos estejam na beira da praia; pelo contrário: muitos preferem ficar em suas casas descansando durante o verão. É claro que as atividades paroquiais diminuem consideravelmente, mas isso não deve nos acomodar de tal modo que as nossas Paróquias parem totalmente nesta estação.
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Muita gente da São José Operário está vindo participar das Missas dominicais aqui no Bom Fim. Eu fico dividido: por um lado, é bom saber que a gente é amado por aqueles que fizeram parte da nossa vida por um longo período de tempo. Porém, por outro lado, seria essencial que eles continuassem lá, atuando na comunidade deles, dando total apoio ao novo Pároco. Esse tipo de coisa acaba sendo constrangedor para mim, uma vez que acaba dando a impressão de que nesses quase sete anos de Paróquia fiz com que as pessoas ficassem ligadas a mim e não ao Senhor. Devemos ser discípulos de Jesus e não do padre fulano ou beltrano...

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Falar de Deus ao povo e do povo a Deus

O padre tem inúmeras missões e tarefas na sua vida ministerial. Quando atua como pároco, tem os cuidados pastorais da sua Paróquia como responsabilidade primordial: o anúncio da Palavra de Deus, a adminsitração dos Sacramentos e a formação e a animação evangelizadora do povo que lhe é confiado. Isso ocupa boa parte do seu tempo e das suas energias. Porém, o padre não deve ser apenas o "empresário" ou o "gerente" de uma empresa de serviços religiosos. Isso restringiria por demais a sua vocação e missão. Se por um lado, o padre é aquele que, pelo seu ministério fala de Deus para as pessoas, por outro lado é aquele que fala das pessoas para Deus, ou seja, é o intercessor por excelência das situações difíceis que o seu povo passa diante de Deus, seja pela sua oração, seja pela oferta de sua vida. Um bom tempo a cada dia diante de Deus é tarefa de todo e qualquer presbítero, para rezar pelas necessidades do mundo, da igreja e dos fiéis que lhes são confiados. Quando não faz isso por negligência ou preguiça, comete pecado grave e não cumpre com o seu papel, não sendo fiel à sua vocação. Padre que não reza a Liturgia das Horas pelas necessidades dos seus paroquianos deveria devolver a sua côngrua (salário) à paróquia, por não estar cumprindo com a sua missão, pois rezar faz parte do seu trabalho.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Despedida da São José Operário

Ontem celebrei a Missa de despedida da Paróquia de São José Operário. Se por um lado todos estávamos felizes pela celebração dos meus dezenove anos de Ordenação Presbiteral, havia um gosto amargo na boca de cada um de nós. Após quase sete anos, eu estava deixando uma Paróquia que me deu muitas alegrias, onde convivi com muita gente que aprendi a amar e a querer bem. Termino o meu "mandato" lá com a sensação de dever cumprido e de que realmente valeu a pena. Imagino os sentimentos que devem passar pelo coração do Padre Décio, ao deixar o Bom Fim, após quase trinta e quatro anos aqui. Sair de uma Paróquia exige do Padre um despojamento muito grande, o que às vezes pode ser doloroso. Se a minha admiração por ele já era grande, cresceu ainda mais agora, com esse exemplo de despojamento que ele está dando.
Ontem tive o meu primeiro contato com as principais lideranças daqui. A acolhida deles está sendo maravilhosa. Tratamos, principalmente, das questões litúrgicas e sacramentais. Confirmei todos em suas funções, assim como reafirmei que qualquer mudança na vida da Paróquia depende do diálogo entre todos nós. Uma mudança que eu queria fazer, mas apenas para mais adiante, eles pediram e vamos fazer em março: as Missas de terças a sextas passará a ser celebrada às 18h30min. É um horário alternativo e intermediário para aqueles que estudam e trabalham à tarde, para quem a Missa às 18h fica sendo muito cedo.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

19 anos de Ordenação Presbiteral

Celebro, hoje, 19 anos de Ordenação Presbiteral. Pude, em alguns momentos à sós com o Senhor, louvar e agradecer tamanhas bênçãos recebidas, sem mérito algum de minha parte, durante este tempo, que já é longo, embora sempre pareça que foi ontem. lembrei de cada comunidade, cada Paróquia por onde passei, momentos bonitos e também momentos difíceis. Porém, em todos os momentos, Deus sempre esteve presente me educando na fé e me ensinando o caminho da fidelidade e do amor. Hoje, 19 anos passados, posso reafirmar o meu SIM dado a Deus e à Igreja naquele dia, e posso confirmar o quão feliz eu sou como Padre e como vale a pena viver o meu sacerdócio com renovado ardor e dedicação. Quero agradecer a todas as pessoas que, de uma maneira ou outra, contribuíram para o êxito do meu ministério.
Hoje encerro, com chave de ouro, o meu ministério à frente da Paróquia de São José Operário. Foram anos de grande crescimento, tanto para mim quanto para as comunidades daquela Paróquia. Guardarei aquele povo maravilhoso sempre no meu coração enas minhas preces.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Paróquia: centro de espiritualidade e de missão

Uma das características de uma Paróquia como a do Bom Fim, até mesmo por causa de sua localização geográfica, é o fato de ser um local de intensa procura para pessoas que necessitam de atendimento eclesial. Nesses poucos dias aqui tenho sido continuamente visitado e procurado pelo mais diferente tipo de pessoas, com as mais diferentes necessidades, coisa que antes não acontecia, pelo fato de a Paróquia de São José Operário estar localizada num local meio escondido, no meio do bairro. A Assembleia Diocesana de novembro último definiu que "as Paróquias devem se tornar cada vez mais centros de espiritualidade e de missão". Esta é a realidade que desejo implementar cada vez mais: fazer do Bom Fim um centro de espiritualidade e de missão, ou seja, referência para as pessoas que desejam rezar, a fim de que encontrem aqui um ambiente que os leve à oração e ao encontro com Deus. Ao mesmo tempo, procurarei me empenhar em ficar à disposição das pessoas que desejem buscar o Sacramento da Reconciliação e orientação espiritual.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Primeiro findi no Bonfa

O primeiro final de semana na nova Paróquia foi extremamente proveitoso. Celebramos a Solenidade da Epifania do Senhor, ou seja, a sua manifestação ao mundo, nas pessoas dos Magos que vieram do oriente para adorar o Deus Menino. Em todas as Missas tivemos casa cheia. No sábado celebramos o Casamento do Thiago e Manu, jovens ligados ao Enjo e ao grupo SJC. Uma garotada bonita invadiu o Bonfa para essa cerimônia.
Na terçafeira será o meu "bota-fora" da São José Operário, na celebração dos meus 19 anos de Ordenação Presbiteral.
Para pensar:
"Somos Epifania de Deus para as pessoas que passam por nossas vidas?"

sábado, 2 de janeiro de 2010

SOU BONFA!!!!!!

Assumi, ontem, a missão de pastorear a Paróquia de Nosso Senhor do Bom Fim, com a Comunidade de Nossa Senhora dos Navegantes. Há apenas alguns meses atrás nem me passava pela cabeça a possibilidade de um dia vir para cá. Estava bem lá na São José Operário, embora eu já tivesse dito ao Bispo que poderia me transferir para onde fosse mais necessário: pensava, talvez, num retorno á Santa Vitória do Palmar ou quem sabe alguma Paróquia na periferia do Rio Grande. Para mim, o Bom Fim era algo inimaginável, uma vez que nem se cogitava a saída do Padre Décio daqui, pároco há mais de trinta anos. Quando o Bispo propôs minha possível vinda para cá, foi uma surpresa, e posso dizer, uma imensa e feliz surpresa. Desde então passei a amar este povo e a rezar por ele. Não conheço quase ninguém, mas a acolhida que tenho recebido é algo maravilhoso. A transição, feita de modo sereno, sob a batuta do Padre Décio, grande amigo e modelo, se deu tranquila, e pretendo continuar de onde está, para que haja uma continuidade entre o trabalho do pároco anterior e o meu.
Quais os meus propósitos, especialmente nesses momentos iniciais aqui? Ser pastor, firme, porém afável. Ser amigo, ser presente na vida das pessoas e comunidades. Fazer crescer a auto-estima dentro dessa Paróquia, para que eles se sintam amados pelo Padre que a Igreja lhes deu. Agora, sim, SOU BONFA!!!! Quero vestir essa camiseta, quero ser parte do bonfa, para que esta se torne uma Paróquia de ponta, onde Jesus seja conhecido e amado, onde a vida comunitária seja a grande tônica e as pessoas possam se sentir em casa. É muito trabalho, mas, com certeza, lograremos êxito, com a Graça de Deus e o auxílio de todos os nossos paroquianos.
Agora pretendo manter o Bog atualizado, seja com informações, seja com reflexões sobre o pastoreio que me é confiado aqui no bonfa!
A todos, desejo um abençoado 2010!

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Provisão de Pároco do Bom Fim

Dom José Mário Stroeher


Por Mercê de Deus e da Sé Apostólica
Bispo do Rio Grande


Aos que esta provisão virem.
Saudações, Paz e Bênção em Nosso Senhor Jesus Cristo


Pela presente Provisão, haveremos por bem nomear Pe. Gil Raul Pereira Junior como Pároco da Paróquia Nosso Senhor do Bom Fim e Assistente da ECRER. Que o amor e zelo pastoral o ajudem a cumprir com alegria a missão de conduzir o Povo de Deus, na Igreja do Rio Grande. Peço a luz do Espírito Santo, para que logre êxito no trabalho que lhe foi confiado.


Rio Grande, 22 de novembro de 2009.
Festa de Cristo Rei



D. José Mário Stroeher
Bispo Diocesano

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Pensando em voz alta (III)

Se quisermos ter um Cristianismo que seja instrumento de transformação da sociedade atual, é essencial que deixemos que a proposta de Cristo possa ser assumida no todo de nossa vida e de nossos valores. Da mesma forma que não existe uma mulher mais ou menos grávida, não é possível existir alguém “mais ou menos cristão”. Entretanto, esse assumir a proposta do Evangelho na sua totalidade não é possível apenas por uma decisão puramente humana, mas tem que ser consequência da experiência que fazemos de Deus em nossa vida, uma experiência mística, espiritual, que vai transformando a vida na sua dimensão mais concreta. Infelizmente, quando falamos de mística e espiritualidade sempre pensamos em algo subjetivo, meio misterioso, sem relação com a vida concreta da pessoa. Essa visão é equivocada, porque a experiência espiritual é o combustível de uma atitude de conversão concreta, de uma postura de vida transformada e transformadora.
Uma Igreja que seja fruto da experiência que seus membros fazem de Jesus Cristo. Quando isso acontece, então passamos de um Cristianismo de verniz para um Cristianismo mais profundo, que provoca convicções, que são assumidas ao natural e causam alegria plena em quem as vive. A comunidade cristã passa a ser, então, o espaço da partilha e da ajuda mútua entre aqueles que desejam ser verdadeiramente discípulos de Jesus Cristo. Nela, os discípulos se reúnem em vista do estímulo mútuo e da ajuda fraterna na fidelidade ao Senhor e à sua proposta de vida. Por isso, acredito profundamente que precisamos redescobrir o valor de viver em comunidades de fé, a fim de que essa se torne a nossa identidade diante de um mundo cada vez mais egocêntrico e individualista. Na comunidade fazemos a experiência do querigma, como passo inicial na fé e também a do catecumenato, como aprofundamento da nossa adesão a Jesus Cristo e á sua Igreja.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Pensando em voz alta (II)

O cristianismo vai muito além daquilo que estamos acostumados a ver e a fazer. Talvez o ponto de partida para a compreensão da atual situação de crise que nossa Igreja esteja enfrentando no começo deste Terceiro Milênio seja a dificuldade de estabelecer a real identidade do cristianismo no mundo e o papel do cristão na sociedade. Por não sabermos quem somos, acabamos não percebendo nossas reais prioridades em termos de ação, enquanto pessoas e estruturas eclesiais.
O que é ser cristão no mundo hoje? Como ele deve se portar, de modo a ser sal da terra e luz do mundo? Essas perguntas devem ser continuamente feitas a cada dia e em cada situação que enfrentamos. Se o cristão não tiver diante de si os mais profundos valores do Evangelho, irá agir sem convicção alguma na sua vida, sendo, dessa maneira “contaminado” com o espírito do “mundo”. Vai, assim, tornando-se um pagão na sua prática ética, moral, assumindo, assim, valores absolutamente contrários ao cristianismo, até mesmo porque ele não vai saber exatamente o que o cristianismo acredita e prega.
O Papa Paulo VI denunciou que o cristianismo pode ser apenas um verniz, algo superficial, que não desce à raiz da vida humana. Pode se tornar apenas atos e gestos secundários, que não venham de lugar algum e não levam a lugar nenhum. Quando o cristianismo se torna apenas esse verniz, passamos a vivê-lo assumindo apenas aquilo que nos interessa e deixando de lado o que não gostamos. É por isso que as nossas prioridades em termos de opções eclesiais são às vezes tão frágeis e até mesmo fúteis, mudadas à mercê de nossos “modismos”.
Traduzindo: não estamos, como Igreja, conseguindo assumir um projeto eclesial de forma estável porque pessoalmente (a começar por mim...) não estamos amadurecidos como discípulos missionários de Jesus Cristo. O encantamento pelo Reino somente acontecerá quando o Evangelho deixar de ser um verniz, tornando-se fundamento para nossa vida e para nossas opções pastorais.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Pensando em voz alta (I)

Chego em casa, vindo de mais uma reunião do Projeto Missionário Diocesano. Continuamos a andar às apalpadelas, sem rumo nem direção. A constatação dolorida é de que a missionariedade não está mais na ordem do dia, seja na cabeça de nossos pastores, seja na cabeça e no coração de nossas lideranças. Aliás, não sabemos nem o que se encontra na ordem do dia atualmente em nossa Igreja. As necessidades e desafios pastorais passam diante dos nossos olhos e corações numa rapidez vertiginosa: o Documento de Aparecida, com toda a sua riqueza teológico-pastoral, desapareceu na poeira de nossas estantes; o Ano Paulino, recém encerrado, não trouxe maiores repercussões, a não ser em alguma agências de turismo religioso; o Ano Catequético repercutiu no primeiro semestre em algumas almas heróicas de nossas catequistas; a juventude? Continua semimorta em nossas comunidades...
Não quero parecer pessimista ou ter que assumir uma atitude de padre velho, para quem nada mais dá certo no mundo de hoje e que vive num saudosismo de um passado que não vai mais voltar (“ah, bons tempos aqueles...”). Parece, porém, que vivemos num tempo árido, onde nos acostumamos com uma pastoral de manutenção e com a vivência de uma religiosidade totalmente descomprometida e sem sal. Deixamos de viver um cristianismo que possa fazer a diferença numa sociedade paganizada, sendo sal da terra e luz do mundo. Está certa a frase de João Batista Scalabrini (“O mundo anda depressa e nós não podemos parar”...), mas a rapidez com que nossas opções pastorais vêm e vão não permite nem que consigamos iniciar e concluir qualquer projeto eclesial. Aquilo que hoje é assunto na Igreja tende amanhã a desaparecer, sem deixar rastro, sendo substituído por outro que depois de amanhã também vai cair na vala comum do esquecimento. E nessa loucura de passar por temas que vêm e vão, vamos deixando brechas escancaradas de necessidades de nosso povo que existem, continuam a existir e não conseguem ser atendidas. Olhamos para todos os lados, vemos gente sofredora, vemos situações terríveis, “cansadas e oprimidas como ovelhas sem pastor” e cruzamos os braços, nos omitindo de um modo cruel e não-cristão.
Está faltando em nossa Igreja hoje o espírito da profecia. Ao melhor estilo dos profetas do Antigo Testamento (sem, porém, precisar utilizar as longas barbas brancas...), torna-se necessário denunciar a mentalidade presente em nossa sociedade e que está contaminando nossa Igreja até os seus fundamentos: uma mentalidade totalmente superficial, individualista, hedonista e outros “istas”, que desfiguram o rosto de Cristo que devemos ser. É profético insistir naquilo que descobrimos como prioridade pastoral e que jamais deve ser esquecido em nossas reuniões e em nossa oração pessoal. Torna-se necessário a comtemplação dos mais prementes desafios que nos são lançados, para que possamos oferecer respostas às questões que nos são formuladas. Para cada desafio, para cada pergunta, a Igreja deve oferecer pistas de reflexão e de ação, de forma concatenada e orgânica. O caminho precisa ser re-feito, para que possamos descobrir onde estamos e para onde precisamos ir. Nossas opções fundamentais necessitam ser retomadas, a fim de que haja de novo o re-encantar-se pelo Reino. Somos mais do que simples “fazedores de coisas”; somos artífices da ação evangelizadora da Igreja, em pleno século XXI, construtores da história nesse novo milênio. É Deus quem nos chama e, por seu Espírito, nos envia em missão. Responder a esse chamado é vocação nossa!

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Palavra de Vida - Mês de julho

Vendei vossos bens e dai o dinheiro em esmola. Fazei para vós bolsas que não se estraguem, um tesouro no céu que não se acabe; ali o ladrão não chega nem a traça corrói.” (Lc 12,33)
Você é jovem e sente a exigência de uma vida ideal, sem meias medidas, radical? Ouça o que diz Jesus. Ninguém nesse mundo lhe pede tanto como Ele. Você está tendo a oportunidade de demonstrar sua fé e sua generosidade, seu heroísmo.Você é adulto e anseia por uma existência séria, comprometida, embora sem perder a segurança? Ou então já é idoso e deseja viver seus últimos anos confiando-se a alguém que não engana, sem preocupações desgastantes? Também para você é válida essa frase de Jesus.De fato, no Evangelho ela é precedia por uma série de recomendações em que Jesus nos convida a não nos preocuparmos com o que deveremos comer e vestir, exatamente como as aves do céu, que não semeiam, e os lírios dos campos, que não tecem. Você deve, portanto, eliminar do seu coração toda e qualquer agitação com as coisas terrenas, porque o amor do Pai por você é bem maior do que pelas aves e pelas flores, e Ele mesmo cuida de você.É por isso que lhe diz:
“Vendei vossos bens e dai o dinheiro em esmola. Fazei para vós bolsas que não se estraguem, um tesouro no céu que não se acabe; ali o ladrão não chega nem a traça corrói”.
O Evangelho, no seu conjunto e em cada uma de suas palavras, é um pedido aos homens de tudo aquilo que são e que têm.Antes da vinda de Cristo, Deus não pedia tanto assim. O Antigo Testamento considerava a riqueza terrena como um bem, uma bênção de Deus. E, se ele prescrevia dar esmola aos necessitados, era para obter a benevolência do Todo-poderoso.Mais tarde, no judaísmo, a idéia da recompensa na outra vida já se tornara mais comum. De fato, um rei respondeu da seguinte maneira a alguém que o acusava de esbanjar os seus bens: “Meus antepassados acumularam tesouros para essa terra, enquanto que eu acumulei tesouros para o céu”.Ora, a originalidade da frase de Jesus está no fato de que Ele pede a você o dom total, pede-lhe tudo. Quer que você seja um filho livre, sem preocupações em relação ao mundo, um filho que se apoia somente nele.Ele sabe que a riqueza é um obstáculo enorme para você, pois ela ocupa o seu coração, enquanto Ele quer ter todo esse espaço disponível para si.Daí, portanto, a recomendação:
“Vendei vossos bens e dai o dinheiro em esmola. Fazei para vós bolsas que não se estraguem, um tesouro no céu que não se acabe; ali o ladrão não chega nem a traça corrói”.
E se você não pode se desfazer materialmente dos bens, devido a obrigações para com outras pessoas, ou porque a sua posição o obriga a se apresentar de modo mais requintado, isso não o dispensa de se desapegar espiritualmente dos bens e de ser um simples administrador deles. Assim, ao mesmo tempo que lida com a riqueza, você ama os outros e, administrando-a em função deles, prepara um tesouro que a traça não corrói e o ladrão não rouba. Mas, você tem certeza de que deve ficar com todos os seus bens? Ouça a voz de Deus que fala no seu íntimo; peça conselho, se não souber decidir. Você verá quantas coisas supérfluas encontrará entre os seus bens. Não fique com elas. Dê, dê para quem não possui. Coloque em prática a frase de Jesus: “Vendei... e dai”. Assim você encherá as “bolsas que não se estragam”. É lógico que, para viver no mundo, é necessário interessar-se também pelo dinheiro, também pelas coisas materiais. Mas Deus quer que você se ocupe e não que se preocupe. Ocupe-se daquele mínimo que é indispensável para viver de acordo com a sua situação, conforme as suas condições. Quanto ao mais:
“Vendei vossos bens e dai o dinheiro em esmola. Fazei para vós bolsas que não se estraguem, um tesouro no céu que não se acabe; ali o ladrão não chega nem a traça corrói”.
O papa Paulo VI era realmente pobre . Uma demonstração disso foi o modo como ele desejou ser sepultado: num pobre caixão, “na terra nua”. Pouco antes de morrer havia dito a seu irmão: “Faz tempo que eu preparei as malas para aquela viagem tão exigente”.Pois bem, é isso que você deve fazer: preparar as malas. Nos tempos de Jesus talvez as malas se chamassem de bolsas. Prepare-as dia após dia. Procure enchê-las o mais que puder com aquilo que pode ser útil para os outros. Você só tem realmente aquilo que dá. Lembre-se de quanta fome existe no mundo. Quanto sofrimento. Quantas necessidades…Ponha nessas malas também todo gesto de amor, toda obra em favor dos irmãos.Faça essas ações por Ele. Diga-Lhe, do fundo do coração: por Ti. E faça-as bem, com perfeição. Elas estão destinadas ao céu, permanecerão para a eternidade.
Chiara Lubich