sábado, 20 de setembro de 2008

O casamento do Marcelinho e Gigi

Hoje casarei um filho. É claro que ser Padre é ser pai de muitos filhos, mas alguns são mais filhos, por serem mais próximos, mais amigos, com quem nos identificamos mais. O Marcelinho é um desses filhos. Quando aqui cheguei, em maio de 2003, ele já fazia parte da vida desta Paróquia, sendo uma liderança extremamente positiva entre os nossos jovens daquela geração, seja na participação no Praesidium Stela Maris, da Legião de Maria Juvenil, seja na condução do Grupo Novo Amanhã, na Catequese, na Liturgia, no Nazareth, no Enjo... enfim, alguém que sempre se destacou pastoralmente. Mas, mais do que isto, foi sempre um filho amoroso e amigo para todas as horas. Mesmo depois que entrou para a Faculdade e começou a trabalhar e a namorar, ficando, assim, impedido de continuar atuando na vida da Paróquia, continuou bastante próximo, vivendo sua vida cristã como leigo, que testemunha a sua fé no ambiente em que vive. Com sua bem amada, a Gigi, continuou sua caminhada de fé, e hoje selam o seu amor com o Sacramento da Matrimônio. Tenho muito orgulho deste filho e desta nora e tenho a certeza de que eles serão muito felizes. Que Deus os abençoe!

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Servir o Senhor com humildade


"Também algumas mulheres o serviam com os seus bens" (Lc 8,3). Na Igreja sempre houve a presença maciça de mulheres, que constribuíram e contribuem de diferentes modos para o êxito da ação evangelizadora. Foi assim desde os tempos de Jesus. Delas mal sabemos o nome, o que faziam ou como era suas vidas. O essencial é saber que elas existiam, amavam Jesus e O serviam com aquilo que eram e tinham. E saber disso é saber tudo.
Nós, também, em nossos dias, mulheres e homens, amamos e desejamos servir o Senhor com nossas características, capacidades e bens. E servimos porque amamos, reconhecendo-O nosso Senhor, Salvador e Deus. Não precisamos fazer resplandecer a nossa luz; deixemos que a Luz de Cristo resplandeça em nós e através de nós. "Convém que Ele cresça e eu diminua", fala João Batista. Se a luz do Céu resplandece já é suficiente, já nos basta.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Os nossos sonhos e projetos

Nesta semana tive a oportunidade de conversar com as turmas do Ensino Médio do Liceu Salesiano Leão XIII, nas Manhãs de Formação que eles organizaram para os alunos do 2. e 3. Ano. O assunto que tratei foi o sentido da vida e os projetos pessoais que eles, na idade em que estão, são chamados a assumir. É impressionante perceber que nos tempos atuais a vida passa correndo e a gente não busca pensar nos ideiais de vida que devem ser buscados e vivenciados. Passamos pela vida e, quando percebemos, um tempo danado foi perdido andando sem rumo nem direção.
O que queremos de nossa vida? O que pensamos estar fazendo no dia 18 de setembro de 2018, ou seja, dentro de dez anos? A resposta para estas perguntas é que vai definir nossos sonhos e projetos, nossa prática e ação. Se procurarmos respostas para elas, iremos determinar o que faremos e quais as nossas atitudes e quais os valores que irão pautar estas nossas atitudes.
Outra coisa que trabalhei com eles foi o fato de temros nos horizontes de nossas opções a necessidade de se viver e buscar uma atitude oblativa, ou seja, viver o amor de forma que este seja serviço ao outro, para que o outro tenha vida e felicidade. Da felicidade do outro depende o sentido da nossa vida e da nossa própria felicidade. Quando pensamos nos nossos planos e sonhos em vista apenas do nosso "ego", tornamo-nos monstros de egoísmo e frustramos os sonhos de Deus para nós e nossos próprios sonhos. A alteridade é essencial para a nossa própria felicidade.
Assim sendo, as perguntas que fiz aos jovens salesianos nãos e refere apenas a eles ou às suas próprias vidas, mas a cada um de nós, que temos um futuro pela frente e uma vida a construir. Enquanto existimos somos construtores da história e, portanto, co-responsáveis por ela. Que nossa contribuição ajude a humanidade a ser melhor.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

O desafio do indiferentismo religioso

Pior do que ser contra é ser indiferente. Eu prefiro mil vezes que alguém não goste de mim do que outros que me são indiferentes. Porque o ódio é um sentimento e quem odeia ao menos dedica parte de seu tempo a destilar o seu ódio. Uma pessoa indiferente é terrível, porque para ela eu não existo, simplesmente isso: não existo, não sou.

O maior desafio para a Igreja em nossos dias não são as outras religiões e nem mesmo os que se consideram nossos inimigos: o maior desafio está exatamente no indiferentismo religioso, que consiste na mais absoluta apatia diante de Deus, do seu Evangelho e da sua proposta de vida. E o vírus do indiferentismo religioso está perigosamente se alastrando em nossa sociedade e entre os nossos fiéis.
Por isso, além de cuidar para não sermos atingidos pelo indiferentismo religioso, nós cristãos (e nós padres e consagrados...) precisamos nos imunizar através do amor apaixonado por Jesus Cristo e por sua Igreja. Somente pessoas que se deixaram encantar pelo Reino de Deus é que poderão ser eficazes na sua ação evangelizadora. A vivência da radicalidade do Evangelho é que deve nos orientar na postura de vida e nas opções fundamentais que fazemos. Não podemos e não temos o direito de achar que nos é permitido ser cristãos pela metade: assim como não existe uma mulher mais ou menos grávida, não pode existir um cristãos mais ou menos santo. Ou somos cristãos que vivem radicalmente a nossa fé ou não somos cristãos!
Alguém poderá dizer: "Eu não consigo, por mais que tente, ser fiel à radicalidade do Evangelho!" Se ao menos tentamos, podemos até cair muitas vezes, mas sempre seremos erguidos pela Misericórida de Deus. O triste é quando desistimos totalmente de Deus e acabamos por nos tornar totalmente apáticos a tudo o que Deus quer de nós.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

A relação padre e jovem


"Jovens, não tenhais medo de serdes os santos de nossos tempos!" (João Paulo II)
O trabalho com juventude, mais do que apenas mais um trabalho pastoral, está muito mais realcionado com um carisma na vida da Igreja e na vida pessoal de quem trabalha. Exige tempo, disponibilidade e alegria do padre ou agente de pastoral.
Exige que permaneçamos perenemente jovens, identificados com eles, capazes de um relacionamento e de um diálogo com eles, de igual para igual. Se eles encontrarem em nós, adultos, pessoas em quem eles possam confiar, estaremos sendo eficazes no nosso trabalho. Porém, é igualmente necessário que esta identificação não faça desaparecer aquilo que é próprio a nós. Sou padre e sou adulto. E eles devem encontrar em mim não apenas "mais um gurizão da galera", mas também precisam perceber o adulto que sou, com as coisas próprias de adultos e com a experiência de adulto, que possa contribuir no seu processo de amadurecimento. Tenho muitos amigos e amigas jovens, que gostam de estar na minha companhia. Não preciso, para isso, fazer tipo adolescente, usando roupas de adolescente ou indo às festas que eles vão ou me portando como eles. Sendo adulto (e sendo feliz por ser adulto...) sem ser rabugento já é o essencial para ser próximo aos jovens, conquistando o seu carinho e, podendo assim, ajudá-los no seu crescimento. A experiência que tenho feito nestes últimos anos com a juventude tem sido a de uma paternidade espiritual, tornando-me, para muitos deles, um verdeiro pai, que se interessa, que está sempre junto, que aconselha e, se preciso for, puxa as orelhas, que ama e manifesta no seu amor o Amor de Deus Pai.

domingo, 14 de setembro de 2008

A Evangelização da Juventude

Desculpem ficar estes dias sem dar notícias, mas estava no 45. Nazareth da Diocese do Rio Grande. Tempo de Nazareth é sempre uma oportunidade de podermos refletir sobre a Evangelização da juventude, à luz do Documento 85 da CNBB, que trata do tema.
A juventude é, talvez, a mais bela e desafiadora fase na vida de uma pessoa. Tempo de decisões fundamentais, que influenciarão durante toda a sua existência. É tempo, também, de amadurecimento pessoal, profissional e afetivo. Por isso, a Igreja acompanha sempre com tanta atenção os nossos jovens, oferecendo a mais ampla gama de oportunidades de Evangelização, fornecidas pelas Pastorais da Juventude e pelos mais diversos Movimentos Eclesiais dedicados a eles, como o Nazareth, Emaús, Legião de Maria Juvenil, Enjo e outros tantos Movimentos.
Eu tenho a imensa alegria de ter sido chamado por Deus para ter o carisma de trabalhar com a juventude. Eles me rejuvenescem e me ajudam a ser um padre melhor. No seu rosto eu vejo o rosto de Jesus jovem e, assim como eles me ajudam, desejo ajudá-los a ser reflexo de Deus paraa Igreja e o mundo.
Domingo próximo, às 15 horas, no Centro Diocesano de Pastoral de Rio Grande, no Auditório, acontecerá o segundo encontro sobre a Evangelização da Juventude, com a presença de todas as organizações que, na nossa Diocese, trabalham com jovens. Todos são convidados.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Deixar que Deus nos ame

Hoje, conversando com uma pessoa, ela me disse o seguinte: "A melhor oração que podemos fazer a Deus é a seguinte: 'Senhor, eu deixo que Tu me ames'!" De fato, a maior crise que as pessoas vivem atulamente é a crise de amor. Embora digamos "Eu te amo" com certa facilidade e de um modo até mesmo irresponsável, tornamo-nos carentes da principal Fonte de Amor, que é Deus. E, carentes desse Amor, buscamos amores que não podem preencher o vazio que fica em nossa alma.
Deus respeita a nossa liberdade. Se não permitirmos que Ele nos ame, o Seu Amor não chegará até nós. Ele jamais deixa de nos amar, mas seremos nós que, com o coração fechado, impediremos que nossa vida seja plenificada pelo Amor que Ele nos oferece.
Quando ficamos fechado ao Amor de Deus, a nossa vida vai perdendo o seu sentido e vai ficando triste e vazia. Até podemos buscar coisas que possam nos preencher, mas jamais ficaremos repletos. Tornamo-nos pessoas amargas, sem o verdadeiro senso da felicidade.
Por isso, deixemos que o Senhor nos ame e amemo-nos uns aos outros com este Amor de Deus!

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

O desenvolvimento da cidade

A nossa região está vivendo um rápido processo de crescimento industrial, econômico e demográfico. Já nos próximos anos, Rio Grande, juntamente com São José do Norte e Pelotas poderá atingir a marca de um milhão de habitantes. Todo este crescimento terá suas vantagens e desvantagens, uma vez que teremos uma crescente oferta de empregos, desenvolvendo também o comércio de nossa região. Porém, este crescimento demográfico trará problemas sérios para serem resolvidos pelo poder público, como a necessidade de um crescimento ordenado em todos os níveis, como o trânsito, o saneamento básico, além da séria questão habitacional.
O desafio que estamos acompanhando também se traduz na necessidade de um mais eficaz gerenciamento eclesial, de forma a atender a demanda que está crescendo. Em que consiste este gerenciamento eficaz? Somos poucos Padres, poucos religiosos e religiosas, poucos leigos e leigas seriamente comprometidos com a Evangelização. Temos poucas Paróquias, que estão mal distribuídas, ficando enormes lacunas na periferia da cidade sem o adequado atendimento pastoral. Por isso, torna-se necessário e até urgente que o novo Plano de Ação Evangelizadora contemple estes desafios que estão surgindo a sugira ações eficazes para a Evangelização.
Alguns passos já estão sendo dados: no dia 02 de setembro tivemos uma reunião do Clero aberta aos religiosos e leigos, onde o Secretário do Planejamento e um professor da FURG nos assessoraram, dando pistas de para onde acontecerá o crescimento de nossa região e quais os desafios principais a serem atendidos. Ontem, tivemos o Conselho Diocesano de Ação Evangelizadora, onde retomamos este tema. Agora, iremos começar a formatar o novo Plano Diocesano de Ação Evangelizadora, que será apresentado e votado na Assembléia Diocesana, em novembro próximo.
Algumas coisas, porém, já parecem claras:
1. precisamos criar em nossas Paróquias uma nova mentalidade missionária, de forma que se tornem, como diz Aparecida, "Comunidades de Comunidades". Talvez seja necessário repensar os limites paroquiais, deslocando para a periferia da cidade, um número maior de padres e religiosos e religiosas;
2. Precisamos investir mais na formação de nossos agentes leigos, não apenas capacitando-os, mas encorajando-os a tomar a frente na Evangelização, superando a mentalidade clericalista ainda existente;
3. A Diocese precisa investir na aquisição de terrenos nos novos núcleos habitacionais que surgirão, para a construção de Capelas e Igrejas. No centro da cidade, é fundamental um trabalho pastoral diferenciado.
Enfim, para os inúmeros desafios teremos que criar inúmeras decisões e respostas para os nossos tempos.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

A força do testemunho de vida

Estamos há poucos dias de mais um Encontro de Jovens de Nazareth. A galera já está a postos, preparando para bem exercer as suas funções e eu também, uma vez que vou para lá pela vigésima quinta vez. Mesmo fazendo a mesma coisa vinte e cinco vezes, para mim sempre o Nazareth representa algo novo na minha vida e no meu Ministério Sacerdotal, especialmente com os jovens. Sou verdadeiramente apaixonado por eles e poder dedicar boa parte de meu tempo e energias para eles é algo tremendamente gratificante.

O que os jovens, garotos e garotas que lá estarão fazendo este Encontro, esperam? As repostas variam muito, mas acredito que vão todas na mesma direção: querem ter a experiência do amor de Deus e do amor dos irmãos. Esta experiência vai ser decisiva na vida de muitos deles, uma vez que, depois deste final de semana a sua vida poderá ter mudado. Deus, com o seu Espírito Santo, faz a parte dele. Cabe a nós, que trabalharemos lá, fazer a nossa parte.
Fazer a nossa parte? Mas como? Reascendendo a chama do amor de Deus em nossa vida, experimentando aquilo que vamos falar, que vamos pregar. Precisamos estar convencidos da verdade que proclamaremos, para que esta verdade possa ter a força do testemunho. De nada adianta falar em amor se eu não o vivo nas relações com meus semelhantes; de nada vale falar em fraternidade se eu sou um monstro de egoísmo; de nada vale falar em pureza se eu há muito não busco viver a castidade como Deus quer; será palhaçada falar em Sacramentos se eu os abandonei por achar desnecessário... Por isso, Nazareth é tempo de conversão para nós, que iremos trabalhar lá, retomando os valores que Jesus nos pede.
É fácil isto? Não! Não é fácil nem para o padre, garanto para vocês! Mas o Senhor não nos pede que estejamos totalmente prontos, perfeitos. O que Ele nos pede é que estejamos buscando, com sinceridade de coração, ser aquilo que Ele quer que sejamos. Se caímos, Ele deseja nos levantar, nos conduzir, como Bom Pastor que é, pelos seus prados e campinas. Seguindo-O, estarmeos prontos para sermos eficazes no nosso trabalho e o nosso testemunho de vida será eficaz para tocar no coração de muitos de nossos jovens.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

A Palavra de Deus, luz para os nossos passos

Durante muitos séculos, a Bíblia era uma "ilustre desconhecida" para o nosso povo católico, sendo privilégio apenas dos mosteiros, dos teólogos e do clero o seu acesso. Evitava-se, assim, que as pessoas simples do povo fizessem interpretações errôneas da Palavra de Deus. Com o surgimento do "Movimento Bíblico", no correr do século XX, e especialmente com o Concílio Vaticano II, na sua Constituição Dogmática Dei Verbum, sobre a Revelação Divina, houve uma grande popularização da Palavra de Deus dentro de nossa Igreja. Diversas edições, com as mais diferentes traduções foram feitas, algumas com comentários muito bem elaborados. Ao mesmo tempo, diversos Cursos Bíblicos começaram a ser realizados, voltados, especialmente, para os leigos e leigas que buscam aprofundar seus conhecimentos da Sagrada Escritura.

Na América Latina, aconteceu um fenômeno, que se desenrolou especialmente nas décadas de 70 e 80, em dois pólos da nossa Igreja: os Círculos Bíblicos, que deram origem a inúmeras Comunidades Eclesiais de Base, onde, semanalmente, grupos se reúnem para aprofundar a Bíblia e iluminar a realidade com ela; no outro pólo, o surgimento da Renovação Carismática Católica, que popularizou o uso da Palavra de Deus nos seus incontáveis Grupos de Oração. A Bíblia passou a ser do povo. Eu mesmo descobri e comecei a amar a Sagrada Escritura há 25 anos atrás, quando comecei a frequentar a Renovação Carismática e possotestemunhar o quanto a Bíblia foi e é importante na minha caminhada pessoal como cristão e discípulo de Jesus Cristo e como padre, ministro da Igreja.
Quem ainda não tem uma Bíblia para uso pessoal, procure adquirir uma: é baratinho e vale a pena. Afinal, gastamos tanto dinheiro com bobagens...

domingo, 7 de setembro de 2008

Tópicos de Aparecida (XII) - A importância da mística na Evangelização

A eficácia pastoral é algo necessário para a vida da Igreja em nossos dias. Porém, não é tudo. Não podemos agir como empresários no comando de uma organização que precisa mostar lucros ao final de algum tempo, para superar os concorrentes. A Igreja não é uma "empresa", que vende um produto qualquer ou até mesmo uma idéia. Somos muito mais do que isto. Buscar eficácia pastoral, sim! Mas fazer disso o nosso objetivo maior, não! O nosso objetivo é anunciar o Reino de Deus e a Salvação que Jesus Cristo nos oferece. É por isso que a Evangelização é o nosso maior objetivo, pois por meio dela, as pessoas podem fazer a sua escolha maior pelo Reino de Deus e pela vida que Deus nos oferece.

"Ora et labora", lema de São Bento, é a receita para toda a ação eclesial. A Evangelização que nos propomos realizar deve ser fruto de uma intensa vida de oração. Nossa missionariedade deve ser consequência do nosso discipulado. Vamos utilizar na Evangelização os meios que temos à mão, mas devemos buscar na mística da experiência do encontro com Jesus a força e a sabedoria para bem utilizá-los, dando espaço ao Espírito Santo para que Ele faça a sua parte.

sábado, 6 de setembro de 2008

Tópicos de Aparecida (XI) - O mundo urbano

O crescimento do mundo urbano exige novas maneiras de atuar na ação evangelizadora. A cultura presente nas nossas cidades exigem que elas sejam pensadas de forma global, atendendo as novas realidades e contemplando as novas pobrezas. Aparecida pede de nós, Igreja da América Latina e do Caribe, ações pastorais que sejam feitas com criatividade e competência. Durante séculos, a Igreja Católica atuou num mundo predominantemente rural e num contexto de Cristandade, onde era praticamente obrigatório às populações a prática da Religião Católica. Hoje, dentro de um contexto de secularização, boa parte de nossa população abandonou as práticas religiosas católicas, optando por uma prática religiosa individualista e intimista. "Creio em Deus, mas não professo a fé de nenhuma Igreja", é assim que dizem e praticam. Diante deste contexto de indiferentismo religioso ou ainda de uma "mescla" de doutrinas de diferentes credos, cabe à Igreja ir ao encontro das pessoas, apresentando a Boa Nova de Jesus Cristo como uma proposta atraente e agradável, capaz de cativar e acolher as pessoas, dentro da sua realidade pessoal.

Algumas posturas devem ser assumidas pela Igreja neste mundo urbano e nesta situação de indiferentismo religioso:
a) O testemunho dos nossos católicos deve ser um testemunho vivo de adesão pessoal a Jesus Cristo e sua proposta. Isso exige do cristão ética na sua vida pessoal, familiar e profissional. Testemunho também de alegria em conhecer e amar Jesus e a sua Igreja;
b) nossas Igrejas devem ser locais de acolhida e devem ter um ambiente sagrado, que leve as pessoas a rezar e a se encontrar com Deus. Devemos manter nossas Igrejas abertas, não somente nos horários de expediente, mas em outros horários, que atendam à demanda de quem estuda e trabalha durante o dia. Expediente à noite, bem como Missa ao meio-dia, especialmente nas Paróquias de centro se torna uma urgência;
c) devemos promover, em nossas comunidades eclesiais a possibilidade do atendimento ás pessoas, como confissões e orientação espiritual, esta não apenas com padres, mas oportunizando católicos profissionais, tipo terapeutas e médicos, que poderiam atuar como "aconselhadores". A criação de atendimento por telefone e internet também tem uma eficácia imensa;
d) a criação de núcleos de Igreja nas vilas e condomínios habitacionais facilitaria o acesso às famílias em seu próprio ambiente. O Ministério da da Visitação e da Acolhida é indispensável no mundo de hoje.
Enfim, criatividade é a alma do negócio. Usar mecanismos novos de evangelizar, bem como resgatar outros antigos, mas igualmente eficazes é necessário. Vivemos num tempo de um "Novo Pentecostes Missionário" na Igreja, uma Primavera da Evangelização. Não devemos deixar escapar esta oportunidade que o Espírito Santo dá à Igreja.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Tópicos de Aparecida (X) - As novas pobrezas

Aparecida cunhou uma nova expressão, que entrou muito em voga a partir da V Conferência: as "novas pobrezas". Convém lembrar que a Igreja Católica na América latina, em Puebla, já no longínquo ano de 1979, fez aquilo que chamou de "opção preferencial pelos pobres". Esta opção preferencial, "não exclusiva e nem excludente", coloca os pobres como preferenciais em todo o atendimento eclesial e social que a Igreja realiza.

A opção preferencial pelos pobres, no dizer de Bento XVI, é cristológica, uma vez que é sinal da opção de Cristo pela humanidade, Ele, que sendo Deus se fez homem, assumindo a nossa pobreza e tornando-se um de nós. Optar pelos pobres é fazer o mesmo trajeto de Jesus, significa agir como Ele, que vai ao encontro de todas as pobrezas, com-padecendo-se de todos os sofrimentos e opressões sofridos pela humanidade. Compadecer significa "padecer-com", estar junto, solidário, unido. Assim deve ser a atitude concreta da Igreja, ou seja, de cada um de nós.
Mas o que significa esta "nova pobreza"? Nas últimas décadas, a situação sócio-político, econômica e social da humanidade mudou consideravelmente. O mundo anda depressa e com significativas transformações. Com isso, surgiram "novos rostos de pobres", que precisam ser vistos e atendidos com o nosso amor samaritano. Aparecida, a partir do número 407, são elencados estes rostos: os moradores de rua, os migrantes, os enfermnos, os dependentes de drogas e os encarcerados. Por que novos rostos? Afinal sempre existiram! Porém, fazem parte de um fenômeno recente o seu crescimento em nossa sociedade. Por isso, a música aquela antiga do Padre Zezinho é cada vez mais atual: "Seu nome é Jesus Cristo e passa fome..."
Constato, com tristeza e preocupação, que a nossa sociedade (e também a Igreja...) tem diminuído sua atenção para com a realidade dos empobrecidos. Pastorais e Movimentos Sociais perderam o seu espaço e este tema não é mais prioritário em nossos Planos de Pastoral. Parece que perdemos a nossa sensibilidade social. Contemplar e auxiliar os pobres, em seus antigos e novos rostos deve ser preocupação constante da Igreja e de cada católico, que deve cultivar o coração de Bom Samaritano.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Tópicos de Aparecida (IX) - Paróquia: comunidade de comunidades

Aparecida cria uma nova terminologia teológico-pastoral para definir a função das Paróquias na vida da Igreja. Uma Paróquia é uma comunidade de comunidades. Isto parece apenas uma definição sem maiores consequências, mas não é bem assim.

Estávamos acostumados a ver uma Paróquia como uma estrutura composta de Matriz e Capelas, onde o pároco comandava o espetáculo, auxiliado pela diretoria, que tinha a função de realizar promoções para pagar as contas... Portanto, a Paróquia era uma espécie de "empresa", com funções religiosas e sociais. As estruturas que precisavam ser mantidas muitas vezes emperravam toda a vida pastoral, engessando a vida eclesial.
Definir a Paróquia como uma comunidade de comunidades nos dá uma nova percepção de como ela deve ser organizada. É claro que torna-se necessário que se façam promoções para o sustento da vida paroquial e suas atividades, mas a prioridade é sempre a missão evangelizadora. Na medida em que cresce esta consciência, cada comunidade vai se dando conta do seu valor e das suas responsabilidades pela vida eclesial. Sendo de certa forma autônoma, cada comunidade procura atender as pessoas e famílias ao redor de si, de forma personalizada, inculturada à região onde se localiza.
Na Paróquia que eu atendo existem quatro comunidades, sendo cada uma diferente da outra. Se tudo ficasse centralizado na Matriz, boa parte de nossa população ficaria sem um atendimento eficaz. Por isso, torna-se necessária a multiplicação de comunidades, de tal modo que todas as realidades sociais sejam contempladas com o anúncio do Evangelho. Porém, não deixamos de ser uma paróquia, e torna-se necessário que algumas atividades possam ser comuns, mantendo a identidade paroquial, como sinal de unidade entre todos. Tornar a paróquia rede de comunidade: eis a realidade que já temos aqui há anos e que Aparecida sugere a toda a América Latina.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Tópicos de Aparecida (VIII) - Desafios para a nossa Diocese

Nesta terça-feira acontecerá uma importante reunião, entre o clero de nossa Diocese, representantes das comunidades religiosas, candidatos ao diaconado permanente e lideranças leigas, especialmente ligadas à Equipe Diocesana de Coordenação da Ação Evangelizadora, ao Projeto Missionário Diocesano e ao REMO (Reunião dos Movimentos), bem como outros interessados. Assessorará a reunião o Secretário Municipal de Planejamento e um professor da Universidade do Rio Grande.
Qual o tema para tão importante reunião? Como Rio Grande está na perspectiva de ter nos próximos anos um acentuado crescimento demográfico, torna-se urgente perceber as tendências deste crescimento, para termos uma eficaz ação da Igreja na área social e evangelizadora. É preciso pensar uma pastoral urbana que faça frente à demanda e que se repense com coragem as nossas próprias estruturas eclesiais, especialmente nossas Paróquias, quase todas elas no centro histórico e comercial da cidade.
Aparecida nos fornece pistas que são importantes para as decisões que serão tomadas, especialmente no que diz respeito à criaitivdade pastoral que transforme nossas estruturas caducas em estruturas mais leves e eficientes. É preciso pensar na tão necessária acolhida aos migrantes que estão vindo para cá, de forma que tenham respeitadas as sua cultura e religiosidade. Rio Grande está se tornando uma cidade com diferentes sotaques, com a chegada de muitos nordestinos e cariocas. Como apresentar Jesus Cristo a uma população cada vez mais heterogênea?
Portanto, pedimos a todos os nossos leitores que rezem neste dia pelo êxito desta nossa reunião. É claro que as mudanças que acontecerem deverão passar pelas mais diferentes instâncias, como o Conselho de Presbíteros, a Assembléia Diocesana, sendo a decisão final tomada pelo Bispo Diocesano. Mas, o primeiro passo está sendo dado hoje. É, portanto, uma data que ficará marcada na história de nossa Diocese.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Tópicos de Aparecida (VII) - Como ficou a nossa Paróquia?

A nossa Paróquia de São José Operário está vivendo neste ano de 2008 o seu quadragésimo aniversário de fundação. Em vista disso, iniciamos neste ano o que chamamos de "Projeto de Re-fundação paroquial", que consiste na retomada das intuições de nossos fundadores, os Missionários Redentoristas, que aqui atenderam de 1968 até 1988. As idéias básicas que queremos ressuscitar são três: a missionariedade, os Grupos de Família e a vida comunitária. Já fizemos diferentes atividades neste ano, tratando do tema "40 Anos": as Caminhadas Penitenciais, as "Noites da Memória", o Retiro Paroquial e a Festa, no próximo final de ano.

Quando olhamos este Projeto de Re-fundação Paroquial, percebemos o quanto dessas intuições fazem parte da imensa riqueza que o Documento de Aparecida nos oferece. Toda a novidade de Aparecida já faz parte da caminhada da Igreja da América Latina há várias décadas, embora com uma nova linguagem e um novo ardor. É aquilo que o livro do Apocalipse fala, quando acusa a Igreja de ter "arrefecido no seu amor", ou seja, de ter esfriado e perdido o rumo da sua caminhada.






A Igreja não é, repito, uma instituição fria e morta,mas possui um corpo e uma alma. Nós, cristãos, somos convocados pelo Senhor para re-assumirmos uma postura de fidelidade ao Evangelho, que nos leve a reencontrar aquilo que foi perdido e a, com novo ardor, e criatividade, construir o novo que os novos tempos exigem. "O mundo anda depressa e nós não pdoemos parar" (Scalabrini).
Este é o objetivo do nosso Porjeto de Re-fundação Paroquial: olhar para trás e perceber aquilo que pode e deve ser retomado com novo ardor; olhar para os lados e contemplar a realidade que nos cerca e que exigem de nós, Igreja de Cristo, uma tomada de posição, com decisões arrojadas e corajosas, que exigem empenho e determinação de todos nós; um olhar para a frente e, com força profética, planejar os rumos que devem ser tomados para atender as demandas que estão surgindo.
Aqui postamos fotos de nossas Comunidades, que compõe a Paróquia de São José Operário. Embora eu resida na Casa Paroquial, que está localizada nos fundos da Igreja de São José, a nossa Paróquia sempre se destacou como uma "Comunidade de Comunidades", ou seja, um conjunto de pequenas Comunidades que, vivendo juntas sua caminhada comum, possuem autonomia suficiente para aquilo que lhes é específico. Esta postura sempre foi utilizada pelos padres que aqui trabalharam e que eu também procurei continuar. É uma postura própria de Aparecida, mas que aqui desde os anos setenta já havia sido aqui instituída e vivenciada. Desta forma, Coração de Maria, Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, Nossa Senhora das Graças e São José Operário tornam-se uma Igreja viva, mesmo com dificuldades, fiéis àquilo que desde 1968 já é realidade nesta área enorme de nossa cidade do Rio Grande.